ENSAIO SOBRE A RELAÇÃO DO
CAPITAL, CULTURA,
SUBJETIVIDADE E RELAÇÕES ÉTNICOS-RACIAIS
Para
o Sociólogo Georg Simmel “a
sociabilidade por sua vez é a forma pela qual os indivíduos
constituem uma unidade no intuito de satisfazer seus interesses, onde
forma e conteúdo são na experiência concreta processos
indissociáveis” e para
o Antropólogo Edward B. Tylor, o conceito de cultura é “todo
aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a
moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades
adquiridos pelo homem como membro da sociedade". É
através da cultura e sociabilidade que o ser humano é constituído.
O
social é o que distingue o homem dos restos dos animais. A
sobrevivência e o processo de humanização é dependente da
sociabilidade e de sua cultura. Este processo autopoiético de
formação sociocultural nos permite denominar o ser humano um ser
social. Os processos e contextos sociais e culturais associada ao
desenvolvimento orgânico são os fatores principais na produção do
Eu e sua subjetividade. Consequentemente sem o social não nos
desenvolvemos como sujeito particular e culturalmente relativo, oque
restringe esse processo ao um empreendimento social. Podemos
construir a analogia que sociabilidade e a cultura são as lentes dos
óculos os quais o ser humano enxerga a realidade. O pensador Félix
Guattari conceituou três
formas de cultura as quais são:
Cultura-Valor:
refere-se a ideia de cultivo do espírito, do intelecto. O
conhecimento, as referências e a bagagem intelectual que se pode ter
ou não.
Cultura-Alma
Coletiva: refere-se a identidade cultural
de um povo. O termo de identificação de povo/população
Cultura-Mercadoria:
refere-se aos bens e equipamentos, conteúdos ideológicos que estão
a disposição de quem pode comprá-los.
A
critica de Félix Guattari está em como capitalismo se apropriou da
cultura. Como um
instrumento de produção e
controle sobre os processos
de subjetivações coletivas.
Uma massificação,
divulgação e redução a todas as formas de cultura a
cultura-mercadoria. Sendo a
subjetividade um âmbito
social e não um âmbito
individual
regulado
pela cultura e o capital e o
poder aquisitivo financeiro
regulador econômico dos indivíduos podemos facilmente presumir como
capitalismo se tornou um sistema produtor
de mais de que
produtos, bens de consumo e estilos de vida; é um sistema de
produção de sujeitos e suas representações no qual geram um modo
de vida e consciências
especificas direcionados a um determinado comportamento favorável ao
próprio capital. Uma
fábrica
de representações sociais que molda o imaginário-simbolico
popular, adulterando suas
opiniões, juízos e conceitos. Um
sistema de retroalimentação onde o capital sustenta e produz
cultura e cultura mantêm o capital. Esse sistema se dá
especificamente na venda do padrão de vida das
elites pautado no consumo voraz como forma de felicidade que precisa
de proletariado explorado tenha incutido e internalizados os valores,
conivicções e
preocupações do opressor e principalmente a pseudo-perspectiva de
que através do trabalho árduo e do merecimento o oprimido
conquistará o status e os
benefícios do
opressor, o “mito da meritocracia”. Esta suposta ilusão de
merecimento produzida de forma padronizada e introduzida na
subjetividade das massas é o que produz a força coletiva de
trabalho, o comportamento padrão eficiente e útil ao sistema. Todo
esse processo visa a
individualização padronizada e uniformizada do sujeito resultado de
uma produção em massa e não sua singularização
livre, diversa e critica. Um
exemplo prático
desse processo se
dá nas relações étnico-raciais, onde os negros são afetados pela
produção de subjetividade branca que dita o que é ser negro desde
o período da escravidão até atualidade. Presente seja na cultura
de massa(senso comum) até a ciência,
essa doutrinação varia desde o padrão de beleza especifico até um
comportamento pressuposto. Primeiramente na cultura, podemos ver uma
subvalorização da raízes
africanas: intolerância com religiões de matriz africana;
depreciação do tradições
negras, desmerecimento de ritmos e músicos africanos
ou afrodescendentes; entre
outros diversos aspectos que
combinam num descredito da cultura-alma coletiva negra.
Há também a internalização
de padrões brancos de beleza, carreira, ideologias, identidade que
muitas vezes fazem as populações negras se auto-depreciarem e
depreciarem
aos seus semelhantes como por exemplo: a criação de ódio de si, de
sua cor, de sua história, de sua situação e todos
aspectos que fazem
de si um indivíduo afrodescendente. Em
seguida temos na ciência um desprestigio da ciência e o
conhecimento do oprimido, contrapartida
um privilégio intelectual
eurocêntrico e norte-americano. No
artigo de Alessandro Santos, podemos acompanhar 3 momentos que marcam
uma possível mudança de paradigma quanto esses sistemas de
privilégios onde a
valorização da ciencia do
“oprimido” e denuncia
dos males ciência “opressora”.
No ramo da psicologia que fundou a Escola Nina Rodrigues, onde
foi formado e desenvolvido um modelo psicofisico de explicação
sobre a deficiências do negro brasileiro e sobre as consequências
sociais da manutenção do convívio dessa raça. Um modelo apoiado
no darwinismo social com o conceito central a ideia de degeneração
da raça, o que veio a causar um relação direta e ilusória de
incidência e prevalência de distúrbios mentais e tendencias a
distúrbios de conduta nas populações negras. Um conhecimento de
cunho enviesado, parcial e racista os quais traços dele se perpetuam
no imaginário popular até hoje. Num segundo momento, veio a
tentativa de desconstrução do determinismo biológico sustentada na
tese de que as diferenças encontradas nos estudos comparativos entre
culturas, povos, raças e sexos devem mais às variáveis externas
como condições econômicas, educacionais de socialização do que
as internas dos sujeitos como fatores genéticos, ou seja, são os
determinantes ambientais que geram diferenças e as particularidades.
Podemos voltar ao pensamento já antes descrito de que o social e a
cultura constrói o ambiente que forma o homem e o homem produz o
meio que o forma o social e a cultura. Por fim podemos ver o processo
de branqueamento e a branquitude que é a forma atual o qual as
elites brancas que comandam o capital agem. É a ideologia que
sustenta o convívio, onde o branco para tolerar, diminuir a
hostilidade e aversão ao negro, recorre ao embranquecimento de seus
traços mais característicos que são repudiação de sua
cultura(alma coletiva) e conhecimento. Essa repudiação se dá pela
negação/ogeriza de tudo aquilo que tem uma raiz Afro ou através da
banalizando sua identidade cultural como algo ínfimo, atrasado,
retrógrado passível de alteração ou extinção; ou através da
mercantilização do que lhe é característico e
identitário
o
reduzindo ao um mero produto, bem, serviço e não algo que antes
denotava a uma tradição ou habito simbólico e significante.
Isso é um processo politico e psicológico de criação de uma
identidade étnico-racial positiva branca para a população negras
através inserção dos princípios morais, preceitos, crenças e
normas como o conjunto de padrões de beleza, atitudes,
comportamentos e concepções visando a se assemelhar ao modelo
branco. Tudo isso é extremamente Nocivo a saúde mental das
populações étnicas e raças oprimidas que vivem a merce dos
designos massificados pelo capitalismo de um ideal branco
heteronormativo, sexista, elitista de vida. Cabe haver um levante e
resistência a esse movimentos de opressões que naturalizam as
desigualdades e as dinâmicas de poder abusivas que a tanto tempo
estão vigente através da conscientização/esclarecimento,
intervenção social, redefinição das representações socais a fim
de estabelecermos firmes os princípios emancipatórios e alcançarmos
a tão desejada e necessária transformação social.
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