sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

A RELAÇÃO DO CAPITAL, CULTURA, SUBJETIVIDADE E RELAÇÕES ÉTNICOS-RACIAIS


ENSAIO SOBRE A RELAÇÃO DO CAPITAL, CULTURA, SUBJETIVIDADE E RELAÇÕES ÉTNICOS-RACIAIS

Para o Sociólogo Georg Simmel “a sociabilidade por sua vez é a forma pela qual os indivíduos constituem uma unidade no intuito de satisfazer seus interesses, onde forma e conteúdo são na experiência concreta processos indissociáveis” e para o Antropólogo Edward B. Tylor, o conceito de cultura é “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade". É através da cultura e sociabilidade que o ser humano é constituído. O social é o que distingue o homem dos restos dos animais. A sobrevivência e o processo de humanização é dependente da sociabilidade e de sua cultura. Este processo autopoiético de formação sociocultural nos permite denominar o ser humano um ser social. Os processos e contextos sociais e culturais associada ao desenvolvimento orgânico são os fatores principais na produção do Eu e sua subjetividade. Consequentemente sem o social não nos desenvolvemos como sujeito particular e culturalmente relativo, oque restringe esse processo ao um empreendimento social. Podemos construir a analogia que sociabilidade e a cultura são as lentes dos óculos os quais o ser humano enxerga a realidade. O pensador Félix Guattari conceituou três formas de cultura as quais são:
Cultura-Valor: refere-se a ideia de cultivo do espírito, do intelecto. O conhecimento, as referências e a bagagem intelectual que se pode ter ou não.
Cultura-Alma Coletiva: refere-se a identidade cultural de um povo. O termo de identificação de povo/população
Cultura-Mercadoria: refere-se aos bens e equipamentos, conteúdos ideológicos que estão a disposição de quem pode comprá-los.
A critica de Félix Guattari está em como capitalismo se apropriou da cultura. Como um instrumento de produção e controle sobre os processos de subjetivações coletivas. Uma massificação, divulgação e redução a todas as formas de cultura a cultura-mercadoria. Sendo a subjetividade um âmbito social e não um âmbito individual regulado pela cultura e o capital e o poder aquisitivo financeiro regulador econômico dos indivíduos podemos facilmente presumir como capitalismo se tornou um sistema produtor de mais de que produtos, bens de consumo e estilos de vida; é um sistema de produção de sujeitos e suas representações no qual geram um modo de vida e consciências especificas direcionados a um determinado comportamento favorável ao próprio capital. Uma fábrica de representações sociais que molda o imaginário-simbolico popular, adulterando suas opiniões, juízos e conceitos. Um sistema de retroalimentação onde o capital sustenta e produz cultura e cultura mantêm o capital. Esse sistema se dá especificamente na venda do padrão de vida das elites pautado no consumo voraz como forma de felicidade que precisa de proletariado explorado tenha incutido e internalizados os valores, conivicções e preocupações do opressor e principalmente a pseudo-perspectiva de que através do trabalho árduo e do merecimento o oprimido conquistará o status e os benefícios do opressor, o “mito da meritocracia”. Esta suposta ilusão de merecimento produzida de forma padronizada e introduzida na subjetividade das massas é o que produz a força coletiva de trabalho, o comportamento padrão eficiente e útil ao sistema. Todo esse processo visa a individualização padronizada e uniformizada do sujeito resultado de uma produção em massa e não sua singularização livre, diversa e critica. Um exemplo prático desse processo se dá nas relações étnico-raciais, onde os negros são afetados pela produção de subjetividade branca que dita o que é ser negro desde o período da escravidão até atualidade. Presente seja na cultura de massa(senso comum) até a ciência, essa doutrinação varia desde o padrão de beleza especifico até um comportamento pressuposto. Primeiramente na cultura, podemos ver uma subvalorização da raízes africanas: intolerância com religiões de matriz africana; depreciação do tradições negras, desmerecimento de ritmos e músicos africanos ou afrodescendentes; entre outros diversos aspectos que combinam num descredito da cultura-alma coletiva negra. Há também a internalização de padrões brancos de beleza, carreira, ideologias, identidade que muitas vezes fazem as populações negras se auto-depreciarem e depreciarem aos seus semelhantes como por exemplo: a criação de ódio de si, de sua cor, de sua história, de sua situação e todos aspectos que fazem de si um indivíduo afrodescendente. Em seguida temos na ciência um desprestigio da ciência e o conhecimento do oprimido, contrapartida um privilégio intelectual eurocêntrico e norte-americano. No artigo de Alessandro Santos, podemos acompanhar 3 momentos que marcam uma possível mudança de paradigma quanto esses sistemas de privilégios onde a valorização da ciencia do “oprimido” e denuncia dos males ciência “opressora. No ramo da psicologia que fundou a Escola Nina Rodrigues, onde foi formado e desenvolvido um modelo psicofisico de explicação sobre a deficiências do negro brasileiro e sobre as consequências sociais da manutenção do convívio dessa raça. Um modelo apoiado no darwinismo social com o conceito central a ideia de degeneração da raça, o que veio a causar um relação direta e ilusória de incidência e prevalência de distúrbios mentais e tendencias a distúrbios de conduta nas populações negras. Um conhecimento de cunho enviesado, parcial e racista os quais traços dele se perpetuam no imaginário popular até hoje. Num segundo momento, veio a tentativa de desconstrução do determinismo biológico sustentada na tese de que as diferenças encontradas nos estudos comparativos entre culturas, povos, raças e sexos devem mais às variáveis externas como condições econômicas, educacionais de socialização do que as internas dos sujeitos como fatores genéticos, ou seja, são os determinantes ambientais que geram diferenças e as particularidades. Podemos voltar ao pensamento já antes descrito de que o social e a cultura constrói o ambiente que forma o homem e o homem produz o meio que o forma o social e a cultura. Por fim podemos ver o processo de branqueamento e a branquitude que é a forma atual o qual as elites brancas que comandam o capital agem. É a ideologia que sustenta o convívio, onde o branco para tolerar, diminuir a hostilidade e aversão ao negro, recorre ao embranquecimento de seus traços mais característicos que são repudiação de sua cultura(alma coletiva) e conhecimento. Essa repudiação se dá pela negação/ogeriza de tudo aquilo que tem uma raiz Afro ou através da banalizando sua identidade cultural como algo ínfimo, atrasado, retrógrado passível de alteração ou extinção; ou através da mercantilização do que lhe é característico e identitário o reduzindo ao um mero produto, bem, serviço e não algo que antes denotava a uma tradição ou habito simbólico e significante. Isso é um processo politico e psicológico de criação de uma identidade étnico-racial positiva branca para a população negras através inserção dos princípios morais, preceitos, crenças e normas como o conjunto de padrões de beleza, atitudes, comportamentos e concepções visando a se assemelhar ao modelo branco. Tudo isso é extremamente Nocivo a saúde mental das populações étnicas e raças oprimidas que vivem a merce dos designos massificados pelo capitalismo de um ideal branco heteronormativo, sexista, elitista de vida. Cabe haver um levante e resistência a esse movimentos de opressões que naturalizam as desigualdades e as dinâmicas de poder abusivas que a tanto tempo estão vigente através da conscientização/esclarecimento, intervenção social, redefinição das representações socais a fim de estabelecermos firmes os princípios emancipatórios e alcançarmos a tão desejada e necessária transformação social.

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